domingo, 28 de novembro de 2010

Elementos para o estudo da História Local

Dia 04 de Dezembro

15h00 - Feira do Livro de Alpiarça - Clube Desportivo «Os Águias»

Conferência sobre a exposição

Com a presença de João Serra, Laurinda Paz, Nuno Prates, José João Marques Pais e Ricardo Hipólito.

Alpiarça - Vila Republicana


Praça - Início do Século XX

A história das ideias republicanas na Vila de Alpiarça daria, por si só, uma outra. Assumindo as defesas da causa republicana em todo o Ribatejo, foi palco, nos últimos anos da Monarquia, de vários comícios contra a ditadura franquista.

O sair de uma crise, de uma cíclica miséria que há época imperava em Portugal era o objectivo que movia os portugueses e os alpiarcenses. Estes, afectados por uma crise vinícola, com um excesso de produção de vinho, em resultado do grande plantio após o combate da «Filoxera», doença que, no século XIX, arrasou as vinhas ribatejanas.

Devido à grande produção, o vinho tinha preços muito baixos e era pedido, por parte dos agricultores, que fosse comercializado a preços mais elevados, medida que a Monarquia não consegue resolver.

Em toda a região, o trabalho escasseava, os salários eram baixos, havia fome e pobreza e, tanto para os lavradores como para os trabalhadores, a República era sinónimo de melhores dias e a solução de todos os problemas populares.

O grito de desespero lançado à Monarquia, com a finalidade de comercializar o vinho a preços dignos, não foi ouvido e, em 1907, o apelo de guerra pela República parte de Alpiarça e depressa chega a várias povoações rurais.

Quando João Franco pretende impor ao país a sua política económica e reaccionária, vários cidadãos de Alpiarça fazem-lhe frente e assiste-se a uma grande resistência pelos campos da Estremadura.

Em 1907, aquando da jornada republicana pelo Ribatejo, é em Alpiarça, a 13 de Junho, que se dá uma das maiores recepções feitas aos republicanos: João Chagas, Alexandre Braga, António José de Almeida, Bernardino Machado e João Menezes. A recepção foi organizada por Joaquim Romão, médico e pessoa estimada por todos. O entusiasmo é enorme: homens, mulheres e crianças esperam os republicanos, dão-se vivas à República. Da varanda da casa de José Malhou, este e António José de Almeida falaram. Depois deste comício, em Alpiarça, a adesão ao partido republicano rondava quase os 100%, o que se provou nas eleições.

No dia 9 de Fevereiro de 1908, o povo de Alpiarça aprova uma moção contra o governo de João Franco e recebe a visita de João Chagas.

Na entrada da Quinta dos Patudos, surge uma manifestação a apoiar a sua causa. À passagem de José Relvas, João Chagas e Luíz Morotte, o povo reunido «exige» um comício de improviso.

Perante o discurso de Joaquim Romão, José Malhou, José Relvas, José Montez e João Chagas, o povo aclama e aplaude com entusiasmo.

Em Alpiarça, o partido republicano, representado por João Chagas, obteve 580 votos, contra os 12 votos do partido monárquico, alcançando, assim, um dos melhores resultados no distrito, uma vez que, no total obteve 5070 contra os 32 000 votos obtidos pelo partido monárquico.

Antes de 5 de Outubro de 1910, João Chagas volta a Alpiarça para participar numa conferência que se realizou no antigo teatro, existente na actual Rua Dr. Duarte Governo. O publicista acompanhado por José Relvas, Ricardo Durão, Dr. Costa, Guedes de Amorim e José Malhou, discursou perante uma plateia entusiasta que muito o aplaudiu.

Depois de tanta luta, uma questão emerge:

O que ganhou Alpiarça com o regime republicano? Muito. Foi um dos concelhos da República e viu a anexação da freguesia de Vale de Cavalos, durante este período; velha aspiração do povo de Alpiarça que só a vê realizada em 1919. José Relvas, como parlamentar, defende e assiste a esta anexação, tal como assistiu à sua desanexação e consequente integração no Concelho da Chamusca.

Para a história ficam, sem dúvida, nomes de homens de Alpiarça que, através da sua propaganda, conseguiram dar à República muitos mais defensores. Destacam-se entre outros, José Relvas, Manuel Duarte, Ricardo Durão, João Maria da Costa, Jacinto dos Mártires Falcão, Joaquim Romão, José Malhou, António e Guilherme Meira.

Pelo exposto não há quaisquer dúvidas de que o povo alpiarcense era republicano.

Alpiarça chegou mesmo a ser considerado o concelho rural mais republicano do país. É, decerto, uma Vila com história dentro da História em que o povo escreveu, escreve e continuará a escrever as suas mais belas páginas.

Cabe-nos, agora, a nós, como alpiarcenses também, dignificá-los e dignificar a nossa Vila.

Em homenagem a todos aqueles que lutaram por aquilo que acreditaram, saúdo

-os, dizendo VIVA A REPÚBLICA.